domingo, 22 de março de 2015


Louco


Todo mundo conhece um louco.
O louco do bairro, o louco da praia, do farol, o de dar dó, o de pedra.

Loucos de todos os tipos aparecem por aí e compõem um quadro que tanto pode nos tirar das nossas loucuras, como nos levar a ela.

Quem é que nunca parou para pensar de onde veio essa estória do louco do saco, do louco que mora cemitério? 
Na espuma de qual onda o louco da praia começou a ser louco? 

Você tem mesmo pena do louco de dar dó?

Quem já não pensou: Nossa! Que louco! Ainda bem que (ou que pena que!) nunca surtei.  Ou viu um louco e ouviu o grilo falante sussurrando: um dia você vai enlouquecer assim, igualzinho.

Talvez você seja o louco. Observa e pensa sobre os loucos.
Talvez te observem e você nem perceba; você é um dos loucos.

E agora temos o louco tecnológico. 
Um dos loucos mais modernos, próximo ao louco por jogos virtuais, e do louco por novidades do mundo cibernético, temos agora o louco da planilha. O louco do Excel.

Esse louco é mais discreto do que os outros porque não fica anunciando sua loucura nas ruas da cidade.
    
Diferente dos outros loucos, quer parecer normal.  
Esconde o fato por pura insegurança.
E são loucos da planilha justamente porque são inseguros.
Eu diria que é um dos TOCs do mundo virtual. 
TOC, sim,  porque impede o sujeito de pensar livremente. 
Ele não pensa no assunto se não estiver vendo tudo numa planilha.

Esses loucos da planilha pensam que usando a bendita, planejam a vida e guardam-se de imprevistos porque têm uma visão geral de muitas variáveis.

Colocando tudo em colunas, linhas e aplicando fórmulas, pensam que tudo vai dar certo e não aparecerão percalços nos assuntos. 

Controle, ou falta dele, os levam a pensar e administrar a vida em formato de passo a passo bem feitinho para chegar a um final feliz.

Nada contra as planilhas – utilíssimas em muitas situações.
O problema é que o louco da planilha acha que todas as situações podem e devem ser planilhadas.

Você conta para o louco da planilha que está lendo um livro de poemas e ele diz: planilha.  Tem rima?  Coloca lá em duas colunas conforme os versos rimem, um em cada linha e depois faça um cruzamento das colunas.
Cruzar sapos com goiabas.  Mais ou menos isso, você pensa.

Mas cuidado!
Não se atreva a contrariar esse tipo de louco. 

É capaz de ele te mandar planilhar os argumentos que vocês estão usando e novamente nascerá uma nova espécie bestial na natureza – agora cruzando premissas, cajus e emoções raivosas – as suas, claro.

E você aí, achando que só porque leu sobre os loucos é até normalzinho, é?

Tem certeza que não pensou em planilhar este texto?
Vogais, consoantes e dígrafos em colunas distintas; papiros, ursos e visconde de sabugosa em outra; louco do saco, de pedra em...

Se fizer várias planilhas, use o vlookup (PROCV) para cruzar as informações.   









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