quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Hoje apresento 2 crônicas que saíram na mídia, mas nunca foram postadas aqui: Gaitinha e Nirvana

Antes delas, vai uma indicação para quem gosta de literatura: 

visitem o blog "Palavra de Literatura" 


http://palavradeliteratura.blogspot.com.br/

Raimundo mantém esse blog cheio de excelente conteúdo - recomendo a todos!

Com você no coração, hoje, Raimundo!


E vamos aos textos:




Gaitinha


A primeira vez que vi um pen drive pensei que era uma mini gaita e assoprei-o.

Meus filhos viram tudo e ficaram estarrecidos.  Até hoje brincam com a estória.  E isso faz muitos anos.

A confusão se deu porque ainda não se vendia o produto aqui no Brasil como se vende hoje em qualquer canto, com tamanhos e cores mil. 

O pen drive que ganhamos - era uso coletivo da família, tamanha a raridade - chegou em casa num momento que eu não estava e foi deixado sobre a mesa para posterior apresentação, presumo.
Ele era prateado e do tamanho daquelas gaitinhas de chaveiros que me acompanharam a infância fazendo-me sentir bastante feliz musicalmente, embora eu não tocasse nada com nada. Só barulho.

Eu achava o máximo um instrumento tão pequeno obedecer ao sopro e à aspiração.  Dava para tocar, portanto, mesmo quando o fôlego acabava - era só aspirar pela boca e produzir mais um acorde. Fantástico!  Sem interrupções.

Pois bem, na época que babei no pen drive os computadores nem tinham a entrada ubs, ou é usb? - sopa infernal de letrinhas - e em casa, só o computador de meu marido comportava o tal acoplamento.

Lembro que fiquei bastante frustrada porque não era uma gaitinha de infância me visitando e porque eu podia guardar informações naquele trequinho... Podia transportar tudo ali compactado, mas para onde? Não se encaixava em lugar algum. Não me valia de nada.
Hoje, meu atual pen drive azulzinho, miudinho, tão bonitinho, que com santa paciência, guarda e zela pelos meus textos, e encaixa num montão de aparelhos, desmanchou.
Fiquei só com uma plaquinha. O invólucro de plástico despedaçou-se e aquelas minúsculas pecinhas que me lembram chicletinhos de antigamente me disseram “Oi” na cara dura.

Primeira reação: pânico! Não ousei mexer no que restou e que ainda estava encaixado no meu note book.

Saí correndo atrás do marido oriental:  aqueles olhinhos puxados tinham de valer alguma coisa numa hora dessas: já que não é pasteleiro, nem verdureiro... É engenheiro!  Foi a gozação que mais ouvi no tempo da faculdade... Engenheiro eletrônico, eletricista e mais alguma coisa do tipo.

Socorro! Todos meus textos estão aí! Tira para mim, sem destruir, vai!

Ele examina a pecinha e aperta mais os olhos, o que me preocupa porque já são tão pequenos - começo a achar que dancei na história.

Todas as minhas reflexões, expurgos, pensamentos tresloucados... Não importa o que sejam... Estão aí gravadinhos, em letrinhas combinadinhas, em formato de textos!!
Como podem, de uma hora para outra virarem apenas silício, plástico e metal ou sei lá o que, sem aviso?

Levei uma dura do filho, porque nunca faço back up - Cruzes!! ensinei esse cara a falar, mas não lembro de ter ensinado “back up” !!!

Levei outra dura do marido pelo mesmo motivo – aliás, um pouco pior - porque ele já me deu mais uma gaitinha, digo, pen drive, que guardei...Talvez na esperança de assoprá-lo escondidinha, num momento de saudosismo!!

Enfim, aquela parte que sobrou ainda funciona e, depois de um remendo que me lembrou um criativo origami cheio de fitas adesivas, tenho uma simpática carcaça de pen drive funcionando e me acompanhando novamente!

Aff! Foi só um susto! E vamos à cópia, sem falta!!

*** 


Nirvana 

Essa lista de músicas do meu celular tem vida própria e escolheu como trilha sonora de fim de expediente a “come...as you are...as you were...as I want you to be...Take your time!... Hurry up!” – Nirvana.

Não quero que venha mais nada nem ninguém.
Não combina.
Quero algo com cara de ponto final.

Beethoven - 7ª sinfonia, 2º Movimento – Opus 90.

OPUS - OPUS - OPUS!

O meu, no escritório, terminou. São mais de 7 da noite!!
Delirante, mas não combina também!
Acordes divinos demais para tanta coisa mundana: formiguinhas trabalhadoras. Muita gente. Suores e cheiros. Multidão. Gordurinhas saindo das calças das mais moças; homens engravatados com pastinhas debaixo do braço.  Zumbis - crianças que usam drogas e perambulam em turmas enormes pelo centro da cidade.

Agradeço a Liszt por ter transformado a sinfonia de Beethoven em uma versão que eu possa tentar tocar num piano. Embaralho os dedos, mesmo com os acordes mais simples. Não saberia quem acompanhar na sinfonia - os violinos me encantam, os oboés e os clarinetes são sedutores - Karajan que o diga.  

Av. São João, Praça da República, Av. São Luís.  Meu destino é o Terminal Bandeira para pegar o segundo ônibus com destino a Sto. Amaro – Zona Sul de São Paulo.
E eu, que hoje sou uma “robocope” modesta, com os fios do fone de ouvido, a bolsa, a echarpe, os óculos e sombrinha ... Tudo meio pendurado, meio caindo... Estou valente e morta por dentro. Desvio, também, dos zumbis.  Queria levar alguns para casa.  Dar banho, comida, olhar nos olhos, conversar, escutar músicas.

Desço o calçadão encharcado.  Sei que vou levar umas 3 horas para chegar em casa, porque chove demais e está tudo alagado. Tenho que atravessar a cidade para chegar em casa.

Sweet and lovely - Thelonius Monk - maravilhoso!  Mas também não combina.  Não há nada de sweet nessa mistureba andante em calçada que cheira urina humana.

Essas calçadas são grandes armadilhas. Ratoeiras.  Quero meu queijo!   Tem-se que andar olhando para o chão e ainda ficar esperta com os movimentos laterais. Segurar a bolsa é automático e obrigatório mas tem que parecer natural.

Há quinze minutos estava rindo com a confusão de uns relatórios, num ambiente climatizado, cercada de especialista em finanças e aparelhos moderníssimos. Agora, pura enxurrada.

Eu sei - Marisa Monte.  “sei que nada sei”!! – Sócrates resumido.   Adoro essa música e queria cantar para algumas autoridades “um dia vou estar na sua...e você vai estar... na minha”. Condição.  Quer trocar um dia só - eu perguntaria.  Queria ver como o sr. se sairia neste equilíbrio diário.

Engato minha marcha do “não” e vou disparando para os pedintes já conhecidos.  Cigarros, trocado, moedinha, pão.

Aprendi a ler lábios com os moradores de rua.  Não ouço nada, pois estou com os fones nos ouvidos, mas sei o que cada um pede.

Pão?

Ele pediu pão?  Não o reconheço de outros dias.

Paro.

Devo ter lido mal os lábios dele, ou talvez ele tenha a boca mole, dor de dente, má dicção... Sei lá.     Volto até o homem, tiro os fones e pergunto o que foi que ele pediu.
Pão, dona.  A senhora me compra um pão?  Tenho muito pouco dinheiro e quero voltar pra minha terra.  Não posso usar o dinheiro pra comer, mas tô morrendo de fome.

Caramba!  Além de olhos de flecha, o cara tinha um português correto demais para um pedinte, além de todos os dentes na boca.
E pedia um pão!

Devo ter desmaiado com o cheiro da urina esparramada na rua e estou delirando. Isso não está acontecendo - penso.    Sinalizo um ok  para ele.

E lá vamos nós no meio do nada cheio de gente, procurar um lugar que seja mais ou menos decente para comer.     Minha ideia é pagar um salgado para o homem, mas ele olha bem para a vitrine e pergunta:
-A senhora não acha que é muito caro pra pouca comida?  Quase 3 reais e pequeno.   A senhora não vai gastar isso não.

Realmente eu devo estar delirando, mas acho que não desmaiei, não.  Devo ter caído de cara na urina da rua e estou afogada!!  Um pedinte econômico.

- Se a senhora me acompanhar até ali - aponta para um lado que não sei exatamente o que tem depois da curva - a senhora pode gastar só 2 reais com um prato que é bem grande, do bandejão da prefeitura.
Começo a achar que depois da curva o cara vai me assaltar.  Mas estou pagando para ver.  Quero ir para casa - mesmo sem a carteira - pensando que não deixei alguém esfomeado no meio da rua.  

Sei que existem muitos esfomeados.  Já fiz trabalhos humanitários que a falta de tempo me comeram a continuação, mas este homem tinha algo na fome.

Fomos caminhando enquanto ele contava a sua história, que não relato aqui para não me estender, mas que me fizeram pensar em lhe dar uma padaria inteira, se pudesse.  E muita gente daria, diante de sua dignidade e correção.

Dou 5 reais.
Rio por dentro quando ele compra um prato para ele, outro ele pede para viagem e escolhe o lugar à mesa para sentar.
Abano a mão.  Ele se aproxima, diz palavras doces demais pra serem contadas - derreteram quando eu as ouvi.

Fico muda e sem ação.     Ele sorri.   Entrega o recibo da compra, faz uma reverência para mim, outra para o prato e começa a jantar, depois de alguns dias de fome.

Volto para o meu caminho me sentindo uma caquinha.  Tenho que percorrer novamente um bom trecho e a chuva continua a cair. Carrego aquele homem no meu coração.

Ponho os fones de ouvido e meu celular dispara “you...give  me something... something that nobodyelse can give...- Jamiroquai ”. 

Enfim meu celular acertou a trilha sonora.

Ah!  Cheguei em casa às 22:50h. 

Para São Paulo alagada está bom, vai!!


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Pressão

Da seção: e sem os remédios diários o texto sai assim!


Fiquei com medo da panela de pressão.
Nunca havia acontecido.  E não é porque sou valentona, não. 
É que sempre mantivemos uma relação de cordialidade.  Ela lá e eu ali.

Apesar de todas as histórias de explosões, feijões grudados em tetos e fogões amassados que já ouvi por aí, jamais tive medo dela.

Mas quando vi a salsa e o merengue que ela e a grelha do fogão dançavam sem cantar o tradicional xiiiiiiii, me assustei!

Quem em sã consciência e plena saúde dança sem cantar ou emitir suspiros?  Boa coisa aquele par não poderia fazer.

Abaixei o fogo e dei um tempo.

Quando voltei a observá-los estavam claramente empolgados.

Ao ver o entrelaçar das pernas deles com aqueles passos ousados – naquele momento me pareceu um tango nada ensaiado - pensei que cairiam um belo tombo e desliguei o fogo!

Pararam na hora . 

A grelha, inerte, que é sua função de sempre, parecia fingir de morta.

Mas, por mais que eu rodasse aquela desproporcional cabecinha vermelha da panela, nada de som. 

Pensei que ela segurava demais o fôlego, digo, o vapor – talvez um ataque súbito de asma alérgica. 

Tão acostumada a feijões!  
Quem sabe é vegetariana e não suporta cozinhar uma carne tão cheirosa.     

É isso! O cheiro deixou-a entusiasmada mas sem poder expelir o ar.

Socorro! Preciso fazer o jantar e a panela tendo ataques sem som!!!

Ok. Desisto.

Vou tirar minha soneca da tarde porque na minha bíblia de "madame-pobre" está escrito, entre outras coisas:

1° Farás todo o serviço de casa conforme teu ânimo.

2° Não olharás para relógio algum. Guiar-te-ás pelo sol, pela claridade, pela tua urgente preguiça e pelos desenhos das nuvens.

3° Tirarás uma soneca após o almoço todos os dias, sem exceção. Cairás estatelada na cama.  Janelas e portas permanecerão abertas como se tivesses sofrido um mal súbito e desmaiado.  Acordarás naturalmente, sem despertadores ou pessoas chamando-te.

Talvez eu deva acrescentar mais um mandamento (que merece estar entre os primeiros, dada a urgência). 

Seria:  "Farás um curso de culinária e aprenderás a trabalhar com todos os utensílios com perfeição."

A panela de pressão continua enroscada!! 

E queimei uma carne que estava assando no forno, enquanto escrevia esta crônica.  
Sniff! 

Cozinhar nunca foi meu forte! 

Hello, família! Cada um traga seu lanchinho para o jantar de hoje, tá?!


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Preguiça




Quarta feira de cinzas é o dia da preguiça.

Para quem pulou o carnaval é dia de bateria zerada – pura falta de energia.
Para católicos é dia de jejum e início da quaresma.
Para os que gostam é dia de futebol na TV.
E para quem não está nem aí com marcos da sociedade é dia que só a parte da tarde existe. 
A parte da manhã pertence aos deuses do descanso, do sono e da preguiça – último pedacinho do feriadão.

Preguiça é total falta de ânimo, tremenda má vontade em executar qualquer tarefa, seja mental ou física e é bem diferente de cansaço.
É languidez igual ao olhar da moça do comercial em outdoor que vende tecidos luxuosos (ela deve saber alguma coisa que não sei – o olhar dela diz isso abertamente).

É espreguiçar alongado, bocejar barulhento, o deixar para depois. Um depois que só Deus sabe quando será.

Preguiça é não querer sair da inércia e você só percebe o movimento do qual não quer sair se este for o não movimento, o não fazer algo. Porque é difícil engatar a primeira para qualquer coisa que não seja o deixar-se ficar largado.

E depois que se é pego por ela, terrível sair.

O sofá e a cama passam a ser pedacinhos do paraíso aqui na terra.
O lixo transbordando é coisa mundana e comer é coisa primitiva – deve ser feito da forma mais prática, rápida e embalada possível.

O coitado do bicho de mesmo nome leva o estereótipo ao máximo, mas talvez seja injustiça termos dado esse nome ao animal. (ou fomos nós que pegamos o nome dele para determinar o nosso estado quase letárgico?).

Designado por Deus a viver em eterno slow motion é resignado com o que lhe foi dado, assim como um boi é resignado na condição de se manter a vida toda pensando e ruminando e o ser que habita o meu cachorro é resignado na condição de prisioneiro daquele corpo que não lhe permite falar.

Escreveu Veríssimo em crônica brilhante e homônima: “a preguiça não quer nem saber.” Não se importa se virou símbolo de uma condição humana.

E antes que a preguiça me domine vou parando por aqui.

As tarefas clamam por providência e eu preciso resistir à moleza que já chegou. 
Ela é prima irmã da preguiça. Tão perigosa quanto. Talvez o início de tudo!

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Carnaval




Época de carnaval é época de patrulhamento.

Você será uma suspeita de ET se disser que não é muito fã da folia e que sambar é coisa que você não fez nem na outra vida.

Falta traquejo, rebolado, ginga – seja lá o que for que faz as sambistas serem tão lindamente hábeis.

Percebam que não estou falando do carnaval em si. A festa é linda. Não sou fã, mas acho bonita, sim.  Estou falando dos patrulheiros de plantão.

Acho ótimo o samba no pé, a mulherada caprichada nos enfeites e nas dietas, a disposição dos batuqueiros em tocar as marchas até o final da festança.

Mas os patrulheiros não se conformam que uma pessoa só ache bonito e não participe.

Não passa pela cabeça deles que talvez você seja "dislexa", retardada e totalmente sem jeito para certas coisas. 

Mas, quem já tentou sambar sozinha em frente a um espelho e se sentiu como um gato que jogaram água, sabe do que estou falando.

Os patrulheiros nem pensam nesses aspectos. Sempre vão para o lado moral, preconceituoso.

Quero dizer, acham que você é preconceituoso.

Olham torto, te chamam de metida, pensam que você nega “as raízes”.

Não adianta você explicar que acha samba um ritmo enjoadinho, repetitivo, que curte alguns sambas por aí mas os de escola de samba, blocos e afins não são os preferidos. 

Uma explicação científica talvez calasse a boca de muita gente.

E num canto da folia, assistindo de bom grado a brincadeira toda mas sendo cobrada pelos chatos de plantão porque você não está lá no meio, dá vontade de responder aos berros:

você sabia que música é ar vibrando + tímpano vibrando + impulsos nervosos enviados para seu cérebro que será “agradado” ou não pela vibração toda?

O agradado ou não depende de uma série de fatores - culturais e físicos.

De repente o samba faz meu cérebro vibrar de um jeito que ele fica enjoado e as células, desanimadas. Vai saber? E fazer o que?  Epocler nele?

Meus sais, por favor!  

Ou cabe uma explicação filosófica? 
Epicuro nos alerta em sua “carta sobre a felicidade” que...

Peloamor!

Precisa ter explicação para um gosto ou outro?  Aff!

Vai lá! 
Divirta-se. Sambe muito. Beije muito. Enfeite-se muito. Tenha muito juízo. Comemore a vida!

Não perca tempo nesse patrulhamento maluco.

Cada um comemora sua felicidade do jeito que quer.

E você que não samba, que não curte carnaval, fica quieto também – não precisa ficar anunciando que não gosta como se isso te purificasse e te diferenciasse em alguma catalogação social.  

E tente ignorar os patrulheiros.  Coisa que, vocês podem ver, não consegui hoje!

Há gosto e lamento para tudo.

E patrulheiros também.  Ô gente chata.

Então vamos lá, a dica é:   não deixe escapar que na sua programação desses próximos dias não há um abadá, uma máscara ou uma pintura no rosto e que não torce por alguma escola ou bloco carnavalesco.

Se escapar, estará confirmado para os patrulheiros: você realmente é uma ET disfarçada tentando tomar a Terra aos pouquinhos.

Ou um humano ruim da cabeça ou doente do pé!


 Bom feriadão e excelentes folias!



terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Seca ou submersa?

Apesar da falta de chuva na cidade, quando chove é uma tristeza.

Difícil viver debaixo d’água, gente!!
Vida de peixe não é para mim.
Apesar da falta de chuva e da falta de água nas torneiras, quando cai um temporal na cidade de São Paulo é um perrengue!  

A verdade é que já estou para lá de cheia de atravessar a cidade pulando enxurradas e desviando de alagamentos.
Como todo mundo, não quero ficar sem água em casa, mas a cidade não aguenta temporais - trava tudo.


Vou convocar um mutirão. Todos assoprando as nuvens em direção às represas. Fazendo a dança da chuva em volta das represas! 
Precisamos de muita água, sim!  Mas na represa, São Pedro, na represa. Tá ruim de mira.

Aliás, pela falta de água, agora temos um novo tipo de decoração nos apartamentos: os baldes são parte da mobília.
 Creio que logo lançarão os modelitos "com cara de aparador", "com cara de sofá", "com cara de mesinha de centro"; os floridos, pintados e de porcelana podem ser peças de decoração.

Lembram das antigas galochas de borrachona?  Já faz um tempo que criaram modelos fashion e você pode enfrentar chuvas com um certo charme. 
Charme que pode não ser visto por ninguém no meio do monte de água suja das enchentes.

Quem mora em casa pode plantar flores e caixas d'água. Na mesma proporção.

Daqui um tempo, ao invés de desejar um apartamento com uma grande varanda você procurará por um com compartimento especial para armazenagem de água. Um cômodo só para isso. Nada de biblioteca, lavabo, closet. O luxo será o quarto da água.

Também teremos edifícios com monstruosas caixas de água e poços exclusivos - outro luxo que será carérrimo e fará muito corretor de imóvel feliz.
A que ponto chegamos!  E imaginem como vai ficar.

Parece que o futuro só chegou com as coisas ruins. Cadê as boas? Quero teletransporte, cura das doenças, paz no mundo.

E nem vou entrar no mérito político, administrativo, celestial e climático do assunto. Renderia outra crônica.

Triste ficar sem água. Triste quando há excesso dela em cidade pavimentada.

Para me prevenir dos temporais dei de olhar o céu com mais frequência durante o dia e, fazendo uso de minha parte índia que deve estar em algum lugar que desconheço, sinto o vento, analiso as nuvens e os pingos, penso carinhosamente na aposentadoria de São Pedro, troco os apetrechos de trabalho pelos de sobrevivência na selva de pedra e saio; ou não!

Há dias que tenho de caminhar porque o transporte público para.  
Em outros não há caminhos nem meios. Tudo alagado. Tudo parado.
O negócio é esperar.  

Observar o Vale do Anhangabaú fechado, alagado, cheio de lixos boiando e passeando até o Terminal Bandeira é uma cena triste. Nem os ônibus conseguem sair.

23 de Maio parada. Nove de Julho alagada. 

Tô frita!  Ou melhor, molhada e sem saída. 
Para quem não sabe, essas são avenidas que cortam a cidade do centro para a Zona Sul.

Passarela virou item de sobrevivência. 
Tenha sempre uma por perto.  Ou saiba nadar e tenha paciência! 

Vamos voltar para as árvores, gente!! Altas, bem altas.  De galho em galho - feito macaquinho. Mas cuidado, porque muitas andaram caindo esse ano.

Também podemos tentar criar membranas. Virar anfíbio é uma boa opção, mas já recomendei em outra ocasião: cuidado ao dormir para não amanhecer grudada nos lençóis; desidratada.  

Tento me confortar pensando que, desta vez, deve ter chovido na represa! 
Tomara!! Verei no noticiário.

Duas horas e meia depois, ao chegar em casa, outra aflição:  por mais que esteja protegida ao andar pela cidade, tenho vontade de destarrachar os pés das canelas e colocá-los de molho num desinfetante!  

Mesmo com banho e sabonete cheirosinho, tenho a sensação horrível de estar contaminada, suja com aquela água toda que vi pelo caminho. 
Espero que seja só neura minha!

Ando sonhando com palafitas, Manaus, Veneza, Índia, Nilo.  
Mas não deve ser nada; só cansaço.

De qualquer forma, vamos nos cuidar. 
Comprar baldes, caixas d'água, galochas, escafandros e barcos é a minha atual sugestão.
Serão todos úteis daqui para frente.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Agradecendo as mensagens, votos, ligações, tambores e fumaças pelo aniversário!

Dia de aniversário


Entre cumprimentos e votos ao longo do dia fui pensando na vitória da vida.
Imagino meus genes teimosos, com cara de minions agindo freneticamente na manutenção do meu organismo.


Persistentes, apesar dos pesares, comandam tudo e nem posso participar das atividades. 
Parecem se divertir.

Gosto do que tem um olhinho só. É mais arteiro. Deve ter sido ele quem me deu o nariz grande e o humor azedinho.

É. Porque minha saga para chegar a uva passa continua.

As rugas são fáceis, os minions têm ajudado bastante.
Difícil é ficar docinha.


Mas tudo bem!
Sigo em frente porque, como todo mundo, não quero morrer logo.
Então, dá-lhe envelhecer tranquilamente. 
Ou, como diz meu amigo: dá-lhe ganhar vida nesses anos!

O problema de aniversário é o antes.
Dizem que passamos pelo inferno astral. Nunca tinha experimentado, mas dessa vez cheguei
a pensar que essa história deve ter algum fundamento:  dias atrás fiquei de molho na cama depois de um tombaço dentro de casa.
Aquelas besteiras que a gente faz de enroscar o chinelo no pé da cama e não achar nada por perto para segurar.
Odeio chinelos, mas adoro a cama! Fiquei quieta e doída.

Começo a achar que meu pai tem razão quando diz que ao envelhecer, o problema não é a cabeça da gente que continua ativa. O problema é que a cabeça manda o pé subir e o pé não obedece! Rebeldia física – ou moleza mesmo.

Para configurar melhor o inferno astral, meu cachorro ficou doente e numa das vindas do veterinário resolveu carimbar o carro com o número 2 enquanto eu dirigia. 
Pensando em arejar o ambiente, tentei abrir o vidro traseiro mas o botão quebrou. O vidro nem subia nem descia. Parou no meio. E, claro, começou a chover.
Aff!    Bota inferno astral nisso! 

E a pergunta que não quer calar veio da minha irmã:  e aí?  Como tá aí na frente?
Da próxima vez quero ser a mais nova. 

Pensando bem, como nós todos sobrevivemos a mais uma quase pandemia, às eleições, ao 
7 x 1 da Copa, aos escândalos nacionais, aos atentados dos extremistas, aos furacões e terremotos, ao luto do amigo que se foi, às enchentes, à seca, aos pensamentos embaralhados
que esse mundo maluco anda pregando a torto e a direito, penso que é uma vitória mais um ano de vida!!
Comemoremos!!

Mesmo que os minions continuem fazendo, sem minha permissão, a festa que querem no corpito aqui!

Espero que caprichem no cérebro! Tá complicado.

Obrigado a todos pelo carinho e atenção. 

Foi um dia que vocês fizeram ficar muito especial!!

bjs