Tsunami
28.12.04
Noticiário
da manhã – 26.000 mortos
Noticiário da noite – 60.000 mortos
Noticiário
do dia seguinte: 71.000 mortos e a contagem continua.
Que triste.
Que triste.
Tsunami: fruto de terremoto gigantesco - 9.1 - na Ásia, em 26/12.
Eixo da
Terra alterado.
Ainda não me
sinto inclinada para lado algum, mas talvez com o encaixar das coisas...
Será que os
astrólogos terão que rever suas previsões?
Tortura
também para quem fica vivo.
Especulações de todo tipo.
Trabalho
completo dessa nossa mãe natureza; digo, madrasta natureza, porque nessas
alturas ninguém quer tê-la por mãe!!
Overdose de
tsunamis.
Só se fala
nisso?!
Ondas
gigantescas de pensamentos sobre a catástrofe invadem as cabeças
pensantes do mundo todo.
Exatamente
um ano depois do terremoto no Irã?!
No mínimo
estranho.
Será que
daqui em diante, a cada ano, no 26/12, algum lugar do planeta vai estrebuchar?
Data
marcada, todos em alerta!
Sinal de
Deus? De Deuses, para eles.
E talvez o
problema seja o plural!
Ou, talvez,
o conceito de paraíso, já que o Irã é bem o oposto das ilhas turísticas e
paradisíacas atingidas fortemente.
Relatos de
sobreviventes, blogs cheios de fotos, informantes e solidários; editoriais
inteiros com o tema.
Voltaire e Rousseau
lembrados por ocasião do abalo de Lisboa; o poema; a discussão filosófica.
Estranho
isso tudo.
Não os
tsunamis, relatados todo o sempre pela humanidade.
Estranho é a humanidade ficar tão espantada.
Revela uma
pontona de orgulho nosso: utilizamos o dedão, construímos e destruímos ao nosso gosto
e no que achamos necessário.
Dominamos.
Comandamos.
Optamos.
E agora vem
algo que não nos consulta e faz o que quer, do jeito que bem entende.
Mas há
tantos tsunamis por aí!!
Gigantescos. Apavorantes e assassinos, também.
A diferença
é que são sorrateiros.
Alguns sem água! Não usam da velocidade e nem dão, no
chacoalhar da terra, um prévio aviso.
Talvez
chacoalhe o céu com muito mais intensidade.
Mas como não vemos, fica por isso mesmo.
Por que
ninguém se importa com o tsunami da falta de água potável?
Esse tsunami
mata 2,2 milhões de pessoas, por ano.
E
não estamos falando de gente que vive no deserto e não tem água para
beber. Estamos falando de saneamento
básico faltante.
Talvez se as
ondas normais da maré de todo o dia depositassem as 6.000 crianças/dia/mundo
que morrem por falta de saneamento básico – água potável e esgoto adequados -
em suas praias, mundo afora houvesse alguma mobilização gigantescamente
bilionária, como esta de agora.
A cada dia a
costa de um país amanheceria cheia de corpinhos inertes vindos das desgraceiras
- frutos dos países das omissões, corrupção etc.
E os
tsunamis da ignorância e tradição que fazem centenas de africanas terem suas
partes íntimas amputadas?
Ou as castas
indianas que fazem o indivíduo acreditar que tem de viver na condição que
nasceu, para cumprir um certo destino e escalar uma estranha cascata social
que, sabe-se lá quem foi que inventou e com qual critério.
Tsunami
cultural - não há grupo de ajuda que consiga executar alguma tarefa realmente
produtiva?!
E os
tsunamis de acidentes automobilísticos que assolam o mundo todo e além de
matar, ainda criam uma turma de incapazes e deficientes físicos?
O tsunami da
guerra também não mata um monte?
Ah, mas
claro que o espetáculo das guerras atuais, com seus mísseis brilhando nas telas
de TVs do mundo todo, desvia a atenção do fato em si.
Está certo
que uma onda gigantesca que chega à costa a 500 km/h e mata, em poucos minutos, 70.000 pessoas ao mesmo tempo é estarrecedora.
Não nego o
fato.
Mas acho que
nos acostumamos com desgraças bem maiores em termos de dignidade de vida só
porque elas são diluídas em diferentes espaços, durante anos, dias, horas. Não nos pregam susto em apenas alguns
segundos, mas são tão devastadoras quanto os tsunamis com água.
Pronto – e
aí está mais um pensamento sobre o ocorrido, colaborando para que só se fale
nisso!
Dez. 2004