terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Seca ou submersa?

Apesar da falta de chuva na cidade, quando chove é uma tristeza.

Difícil viver debaixo d’água, gente!!
Vida de peixe não é para mim.
Apesar da falta de chuva e da falta de água nas torneiras, quando cai um temporal na cidade de São Paulo é um perrengue!  

A verdade é que já estou para lá de cheia de atravessar a cidade pulando enxurradas e desviando de alagamentos.
Como todo mundo, não quero ficar sem água em casa, mas a cidade não aguenta temporais - trava tudo.


Vou convocar um mutirão. Todos assoprando as nuvens em direção às represas. Fazendo a dança da chuva em volta das represas! 
Precisamos de muita água, sim!  Mas na represa, São Pedro, na represa. Tá ruim de mira.

Aliás, pela falta de água, agora temos um novo tipo de decoração nos apartamentos: os baldes são parte da mobília.
 Creio que logo lançarão os modelitos "com cara de aparador", "com cara de sofá", "com cara de mesinha de centro"; os floridos, pintados e de porcelana podem ser peças de decoração.

Lembram das antigas galochas de borrachona?  Já faz um tempo que criaram modelos fashion e você pode enfrentar chuvas com um certo charme. 
Charme que pode não ser visto por ninguém no meio do monte de água suja das enchentes.

Quem mora em casa pode plantar flores e caixas d'água. Na mesma proporção.

Daqui um tempo, ao invés de desejar um apartamento com uma grande varanda você procurará por um com compartimento especial para armazenagem de água. Um cômodo só para isso. Nada de biblioteca, lavabo, closet. O luxo será o quarto da água.

Também teremos edifícios com monstruosas caixas de água e poços exclusivos - outro luxo que será carérrimo e fará muito corretor de imóvel feliz.
A que ponto chegamos!  E imaginem como vai ficar.

Parece que o futuro só chegou com as coisas ruins. Cadê as boas? Quero teletransporte, cura das doenças, paz no mundo.

E nem vou entrar no mérito político, administrativo, celestial e climático do assunto. Renderia outra crônica.

Triste ficar sem água. Triste quando há excesso dela em cidade pavimentada.

Para me prevenir dos temporais dei de olhar o céu com mais frequência durante o dia e, fazendo uso de minha parte índia que deve estar em algum lugar que desconheço, sinto o vento, analiso as nuvens e os pingos, penso carinhosamente na aposentadoria de São Pedro, troco os apetrechos de trabalho pelos de sobrevivência na selva de pedra e saio; ou não!

Há dias que tenho de caminhar porque o transporte público para.  
Em outros não há caminhos nem meios. Tudo alagado. Tudo parado.
O negócio é esperar.  

Observar o Vale do Anhangabaú fechado, alagado, cheio de lixos boiando e passeando até o Terminal Bandeira é uma cena triste. Nem os ônibus conseguem sair.

23 de Maio parada. Nove de Julho alagada. 

Tô frita!  Ou melhor, molhada e sem saída. 
Para quem não sabe, essas são avenidas que cortam a cidade do centro para a Zona Sul.

Passarela virou item de sobrevivência. 
Tenha sempre uma por perto.  Ou saiba nadar e tenha paciência! 

Vamos voltar para as árvores, gente!! Altas, bem altas.  De galho em galho - feito macaquinho. Mas cuidado, porque muitas andaram caindo esse ano.

Também podemos tentar criar membranas. Virar anfíbio é uma boa opção, mas já recomendei em outra ocasião: cuidado ao dormir para não amanhecer grudada nos lençóis; desidratada.  

Tento me confortar pensando que, desta vez, deve ter chovido na represa! 
Tomara!! Verei no noticiário.

Duas horas e meia depois, ao chegar em casa, outra aflição:  por mais que esteja protegida ao andar pela cidade, tenho vontade de destarrachar os pés das canelas e colocá-los de molho num desinfetante!  

Mesmo com banho e sabonete cheirosinho, tenho a sensação horrível de estar contaminada, suja com aquela água toda que vi pelo caminho. 
Espero que seja só neura minha!

Ando sonhando com palafitas, Manaus, Veneza, Índia, Nilo.  
Mas não deve ser nada; só cansaço.

De qualquer forma, vamos nos cuidar. 
Comprar baldes, caixas d'água, galochas, escafandros e barcos é a minha atual sugestão.
Serão todos úteis daqui para frente.


Um comentário:

  1. Marcela, mais uma saborosa crônica. Desejo dias melhores para o cotidiano paulistano, mas acho difícil melhorar seu texto. De novo, parabéns. Obrigado por mais uma visita ao Palavra de Literatura. Você viu que tem direito a um marcador de página e a um cartão de agradecimento? Olha, recebi seu e-mail com o delicioso (haja adjetivos ligados ao paladar para referir-me ao que você escreve) relato sobre o livro emprestado da biblioteca. Devo valer-me do tempo ocioso do feriadão para mandar-lhe a resposta que bem merece.

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