domingo, 15 de fevereiro de 2015

Carnaval




Época de carnaval é época de patrulhamento.

Você será uma suspeita de ET se disser que não é muito fã da folia e que sambar é coisa que você não fez nem na outra vida.

Falta traquejo, rebolado, ginga – seja lá o que for que faz as sambistas serem tão lindamente hábeis.

Percebam que não estou falando do carnaval em si. A festa é linda. Não sou fã, mas acho bonita, sim.  Estou falando dos patrulheiros de plantão.

Acho ótimo o samba no pé, a mulherada caprichada nos enfeites e nas dietas, a disposição dos batuqueiros em tocar as marchas até o final da festança.

Mas os patrulheiros não se conformam que uma pessoa só ache bonito e não participe.

Não passa pela cabeça deles que talvez você seja "dislexa", retardada e totalmente sem jeito para certas coisas. 

Mas, quem já tentou sambar sozinha em frente a um espelho e se sentiu como um gato que jogaram água, sabe do que estou falando.

Os patrulheiros nem pensam nesses aspectos. Sempre vão para o lado moral, preconceituoso.

Quero dizer, acham que você é preconceituoso.

Olham torto, te chamam de metida, pensam que você nega “as raízes”.

Não adianta você explicar que acha samba um ritmo enjoadinho, repetitivo, que curte alguns sambas por aí mas os de escola de samba, blocos e afins não são os preferidos. 

Uma explicação científica talvez calasse a boca de muita gente.

E num canto da folia, assistindo de bom grado a brincadeira toda mas sendo cobrada pelos chatos de plantão porque você não está lá no meio, dá vontade de responder aos berros:

você sabia que música é ar vibrando + tímpano vibrando + impulsos nervosos enviados para seu cérebro que será “agradado” ou não pela vibração toda?

O agradado ou não depende de uma série de fatores - culturais e físicos.

De repente o samba faz meu cérebro vibrar de um jeito que ele fica enjoado e as células, desanimadas. Vai saber? E fazer o que?  Epocler nele?

Meus sais, por favor!  

Ou cabe uma explicação filosófica? 
Epicuro nos alerta em sua “carta sobre a felicidade” que...

Peloamor!

Precisa ter explicação para um gosto ou outro?  Aff!

Vai lá! 
Divirta-se. Sambe muito. Beije muito. Enfeite-se muito. Tenha muito juízo. Comemore a vida!

Não perca tempo nesse patrulhamento maluco.

Cada um comemora sua felicidade do jeito que quer.

E você que não samba, que não curte carnaval, fica quieto também – não precisa ficar anunciando que não gosta como se isso te purificasse e te diferenciasse em alguma catalogação social.  

E tente ignorar os patrulheiros.  Coisa que, vocês podem ver, não consegui hoje!

Há gosto e lamento para tudo.

E patrulheiros também.  Ô gente chata.

Então vamos lá, a dica é:   não deixe escapar que na sua programação desses próximos dias não há um abadá, uma máscara ou uma pintura no rosto e que não torce por alguma escola ou bloco carnavalesco.

Se escapar, estará confirmado para os patrulheiros: você realmente é uma ET disfarçada tentando tomar a Terra aos pouquinhos.

Ou um humano ruim da cabeça ou doente do pé!


 Bom feriadão e excelentes folias!



2 comentários:

  1. Nunca fui muito fã. Atualmente sou um preguiçoso convicto. Afugenta-me tudo que tem logística muito complexa, multidão, demora especialmente para sair. Você já está consciente de cada estrutura anatômica dos pés e das pernas, por causa da dor e do cansaço, seu corpo clama pelo aconchego de lençóis macios, mas você ainda tem de enfrentar fila de gente, fila de carros, fila de segundos e minutos sem fim. Melhor ficar em casa lendo o Blog da Mar.

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