Hoje é dia mundial da religião e dia nacional de combate a intolerância religiosa.
Liberdade
Confundem
liberdade com direito a.
Liberdade
é poder escolher.
Direito
a fazer alguma coisa é poder ou não executar a ação que você teve o direito de
pensar em fazer.
Liberdade
tem limite sim. E termina no direito do outro.
Você
tem liberdade de andar por aí, mas não pode pisar na cabeça de alguém.
Você
tem liberdade de achar alguém horroroso, e tem direito de falar isso por aí. Mas lembre-se: sua opinião é problema seu.
Posso não querer saber nem ouvir.
Você
tem liberdade para fazer barulho, mas não pode incomodar ninguém.
Você
tem liberdade de escrever, desenhar e pensar o que quiser, e até tem o direito
de divulgar qualquer coisa – Mas haverá consequências legais e morais.
Onde
é o ponto?
Entre
a liberdade e o direito há o respeito.
Respeito
é coisinha difícil de delinear: deixar para lá? Segurar-se para não criar
encrencas, não ofender? Reconhecer que se fizessem o mesmo para você talvez
você não gostasse?
Sim.
Respeito
é tudo isso e muito mais.
Respeito
não é ser submisso à opinião do outro, nem concordar com ela. Muito menos ter medo
de reagir.
Alguns
dicionários dão submissão, obediência,
medo e temor como significado da palavra respeito porque para muitos o
respeito implica nisso tudo por excesso de reverência ao respeitado. O dicionário
tem que colocar todas as possibilidades, claro.
Mas
na sua origem latina, respeito significava olhar novamente para algo. Ou seja,
algo que deveria ser olhado 2 vezes, que merecia atenção e consideração.
Implicando em cuidado com o objeto observado, levando a mais uma análise antes
de qualquer conclusão, ação ou julgamento.
Pense
um pouco e vai descobrir muito sobre respeito.
Porque
vejamos algumas situações:
se
seu filho sair desenhando um negro narigudo na escola e sair com o papel
abanando no meio da sala de aula, esbravejando sobre “preto narigudo”, será repreendido pela
professora que vai ensinar a ele que não se deve brincar com as características
físicas de uma pessoa; que foi papai do céu que fez a pessoa assim e então ele
deve respeitar o jeitão do outro.
O
menino vai se perder na palavra respeito, provavelmente indefinida para ele, mas
vai prestar atenção ao fato do papai do céu ter feito alguém daquele jeito.
No
mínimo vai achar papai do céu um cara estranho que também tem lápis de cor. Por que pintou um e não outro? Vai aprender a
não dar atenção a certas características das pessoas e sim às pessoas e suas
ações e pensamentos. O conceito de
respeito começará a existir e fazer sentindo aos poucos para o pequeno.
Se
seu filho der um socão no coleguinha de escola que lhe mordeu o braço, a
professora vai repreender os dois.
Por
maior ofensa que seja levar a tal mordida, será ensinado aos dois que as mãos
servem para coisas bem melhores e os dentes devem morder comidinhas. (mais tarde
o garoto vai aprender que com os dentes abrimos tampas de remédios, rasgamos
embalagens – sem raivas, só um recurso...E só mais tarde, tá?!!)
Nada
justifica agressão.
Muito
menos matar quem te ofende.
Isso
é orgulho – tão detestável quanto a invasão moral e física - falta de respeito.
Por
mais ofensiva que tenha sido a ação em sua direção, matar o ofensor não deve
nunca, jamais, ser a opção de solução.
Mas
cuidado com sua ação. Ela não pode invadir o direito e a liberdade do outro ser em nenhum aspecto.
Portanto,
não sejamos hipócritas!!!
Liberdade
tem limites, sim.
Ensinamos
isso às crianças e depois, adultos, não praticamos numa atitude bem sem
vergonha de relaxamento e descuido.
Sejamos
coerentes. Entendemos uma coisa bem
depurada e depois praticamos outra, mais grosseira, reativa, sem arestas, quase
animal irracional.
E
para justificar, trocamos o nome das características: orgulho por ofensa, direito por liberdade,
respeito com direito e liberdade.
Uma
maçaroca.
Querem
ver como ensinamos uma coisa e praticamos outra?
Lembro
que uma vez, num parquinho de areia fora do Brasil, meu sobrinho não queria
dividir um brinquedo que era seu com um amiguinho.
Eu
e a mãe do tal amiguinho – na verdade não se conheciam, apenas estavam
brincando no mesmo parque público – assistindo a cena.
O
menino insistia em pegar o brinquedo do meu sobrinho que começou a ficar
irritado pois estava brincando com o apetrecho – era um balde de plástico.
A
mãe desse menino ficou o tempo todo falando: let’s share para o meu sobrinho,
como quem está querendo ensinar que tudo deve ser dividido e assim criariam uma
amizade, um vínculo.
Ela
dizia: let’s share. He’s your friend.
E
eu pensando com meus botões como deveria ser estranho para uma criança aceitar
outra, de repente, do nada como amigo e ainda mais dividir suas coisas.
Meu
sobrinho, para lá de irritado, acabou dando um empurrão no amiguinho e a mãe
ficou muito brava e me olhou muito sério, cobrando uma atitude. Ela disse algo como “ e então, você não vai
fazer nada?” – querendo que eu tomasse uma atitude repreensiva.
Perguntei
para ela se ela poderia share o carro dela comigo naquela tarde porque
precisaria fazer supermercado e estaria sem o meu.
A
mulher me olhou atônita. Estarrecida. Olhos azuis lindos me bombardeando com
pontos de interrogação gigantescos. Pareceu que eu lhe pedia a vida.
Perguntou
se eu era a babá de meu sobrinho – e aí entra o preconceito: sou morena, estou
num país de pessoas com pele clara e meu sobrinho tem a pele quase transparente...Só
posso ser a babá sem noção!!
Ignoro a cutucada racista – porque para ela era só um pensamento lógico (mesmo que eu fosse a babá, não poderia argumentar?!).
Ignoro a cutucada racista – porque para ela era só um pensamento lógico (mesmo que eu fosse a babá, não poderia argumentar?!).
É
só respirar fundo e não perder o foco, pensei na hora.
Respondo
que não. Que sou tia e insisto se ela pode me emprestar o carro naquela tarde,
afinal, estávamos ali juntas e poderíamos ser amigas se compartilhássemos as coisas.
Só
então a ficha dela caiu.
Sorriu
largo, perguntou se eu era argentina e pediu desculpas por ter insistido na estória
do brinquedo.
O
menino tinha liberdade para tentar pegar o brinquedo? Tinha.
Tinha
direito de pegar o brinquedo? Não. Só se
o dono permitisse.
O
respeito à liberdade de não emprestar tinha que ser praticado, mas claro – eram
crianças brincando - não saberiam fazer de forma suave.
Não
achariam por solução um acordo, um diálogo filosófico ou humanitário.
Não
achariam certo uma coisa, nem outra. Só
queriam o bendito balde!!
E
aí vem uma adulta que diz uma coisa (até bonita e romântica na visão
humanitária) e pratica outra?
A educação da criança acaba sendo estranha: a mãe diz uma coisa mas no seu dia a dia pratica outra. Crianças percebem essas incoerências, inconscientemente.
A educação da criança acaba sendo estranha: a mãe diz uma coisa mas no seu dia a dia pratica outra. Crianças percebem essas incoerências, inconscientemente.
Só pode dar confusão mesmo porque não se ensinou o limite.
Tem
um humorista preso na França; seu filho não poderia desenhar na escola um papa
com uma faca na boca; temos humoristas brasileiros que já foram muito
censurados e processados por gente que se sentiu ofendida com brincadeiras
deles e uma balança desequilibrada nesse mundo que está usando a religião como
peso.
2
pesos e 2 medidas.
Não
sejamos crianças. Não sejamos incoerentes.
Respeito
é bom,
eu
gosto e
pratico.
Espero
que pratiquem comigo porque respeito é a margem que delimita a liberdade e o
direito a fazer alguma ação para que possamos viver em harmonia.
Ah!
E sobre o balde das crianças... Eu e a mãe do garoto falamos que queríamos
brincar também e pedimos o balde; dissemos que não tínhamos com o que brincar.
O
balde foi emprestado pelo meu sobrinho e as pás pelo garotinho, agora quase amigo.
Fizemos
castelos que eles iam enfeitando – e desmontando também, crianças que eram.
Mas nós já estamos bem crescidinhos para fazer tanta bobagem, não estamos?
Mas nós já estamos bem crescidinhos para fazer tanta bobagem, não estamos?
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