quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Feliz Natal, gente!!


Papai Noel no Brasil


Ele tinha sido avisado pelo Conselho de Papai Noel, entre outros detalhes, para enfeitar-se quase como Carmem Miranda.

-- Ó Noel, lá é um país tropical, abençoado por Deus e bonito NA natureza, mas com uma gente com princípios diferentes.
Você terá que adaptar-se para as entregas dos presentes.

Temendo o calor exagerado, o bom velhinho abandonou a tradicional roupa de Papai Noel feita de tecido grosso e mangas comprimidas.
Vestiu uma sunga vermelha com barrado branco nas pernas e na cintura, confeccionada pela Mamãe Noel, claro.

Sentiu-se meio esquisito mas preferiu isso a Carmem Miranda e lembrou do código de conduta de Papai Noel que dizia claramente para ser discreto na entrega dos presentes e adequado às tradições dos países que visitasse.

Na carruagem, trocou as lanternas que poderiam gerar muito calor por abacaxis, mangas, jacas, maças e folhas de coqueiro e samambaias.
Bem tropical, pensou.

Na primeira entrega, a primeira dificuldade.
Cadê a chaminé?  
Mas logo lembrou-se das instruções  para o Brasil e foi forçar as portas e janelas da forma mais discreta possível.
Sempre tem algum distraído nas famílias e o bom velhinho – meio Tarzan, meio Papai Noel – conseguiu entrar em várias casas.

Mas na casa de Raimundo, além de não ter que forçar nada, encontrou o próprio Raimundo sentado em frente ao fogão à lenha, tomando uma branquinha.

Vendo o estranho maltrapilho que adentrava, Raimundo gritou para a mulher: corre, traz uma comida e uns panos pra cobrir um pobre coitado que chegou da estrada! Temos pouco mas podemos dividir, viu moço. Peraí.

E Papai Noel saiu com uns panos cobrindo o corpo, uma cabra e dois cocos. 
O velhinho não teve muita chance de se explicar, mas conseguiu entregar os sacos de presente que foram colocados de lado – a atenção do casal era para a penúria dele.

Cinco casas, quatro cabras, dois sacos de macaxeira e vários comentários sobre sua pele pálida depois, Papai Noel achou melhor vestir a roupa tradicional para não ser mal interpretado novamente.

Suava em bicas e questionava os costumes - coisas do tipo...Esse pessoal não dorme? Diferente mesmo esse país!

Decidido a não provocar mais estranhezas, passou uma meleca escura no rosto para ficar mais moreninho e não parecer doente como disseram.

A próxima entrega é em casa muito grande, com chaminé. 
Achou que desta vez o trabalho seria mais fácil e foi escorregando suavemente até a lareira.
Mas, para variar, tinha gente acordada na sala.
Cumprimentou o menino que deu uns passos para trás e gritou:

-- Mãe, traz o saco de dinheiro que o homem chegou.

Noel não entendeu o comentário da mulher sobre ser mais discreto na roupa, que assim todo mundo perceberia a qual partido ele pertencia, sobre petróleo e escândalos, mas escreveu em seu caderninho de viagem:

Brasil - país que pode ser tirado da rota de entregas pois já tem esquemas próprios.

Jogou as mãos para trás, coçou a barba, desejou  mentalmente um feliz natal ao país atípico e partiu.

Ah!
Ao voltar para a carruagem, não encontrou as frutas que a enfeitavam.  
Pensou que talvez os animais da redondeza as tivessem comido.
Nem percebeu os flanelinhas.









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