Papai Noel no Brasil
Ele
tinha sido avisado pelo Conselho de Papai Noel, entre outros detalhes, para
enfeitar-se quase como Carmem Miranda.
-- Ó
Noel, lá é um país tropical, abençoado por Deus e bonito NA natureza, mas com
uma gente com princípios diferentes.
Você
terá que adaptar-se para as entregas dos presentes.
Temendo
o calor exagerado, o bom velhinho abandonou a tradicional roupa de Papai Noel
feita de tecido grosso e mangas comprimidas.
Vestiu
uma sunga vermelha com barrado branco nas pernas e na cintura, confeccionada
pela Mamãe Noel, claro.
Sentiu-se
meio esquisito mas preferiu isso a Carmem Miranda e lembrou do código de conduta de Papai Noel que dizia
claramente para ser discreto na entrega dos presentes e adequado às tradições
dos países que visitasse.
Na
carruagem, trocou as lanternas que poderiam gerar muito calor por abacaxis,
mangas, jacas, maças e folhas de coqueiro e samambaias.
Bem
tropical, pensou.
Na
primeira entrega, a primeira dificuldade.
Cadê a
chaminé?
Mas logo lembrou-se das
instruções para o Brasil e foi forçar as
portas e janelas da forma mais discreta possível.
Sempre
tem algum distraído nas famílias e o bom velhinho – meio Tarzan, meio Papai Noel
– conseguiu entrar em várias casas.
Mas na
casa de Raimundo, além de não ter que forçar nada, encontrou o próprio Raimundo sentado
em frente ao fogão à lenha, tomando uma branquinha.
Vendo
o estranho maltrapilho que adentrava, Raimundo gritou para a mulher: corre,
traz uma comida e uns panos pra cobrir um pobre coitado que chegou da estrada!
Temos pouco mas podemos dividir, viu moço. Peraí.
E
Papai Noel saiu com uns panos cobrindo o corpo, uma cabra e dois cocos.
O
velhinho não teve muita chance de se explicar, mas conseguiu entregar os sacos
de presente que foram colocados de lado – a atenção do casal era para a penúria
dele.
Cinco
casas, quatro cabras, dois sacos de macaxeira e vários comentários sobre sua
pele pálida depois, Papai Noel achou melhor vestir a roupa tradicional para não
ser mal interpretado novamente.
Suava
em bicas e questionava os costumes - coisas do tipo...Esse pessoal não dorme? Diferente mesmo
esse país!
Decidido
a não provocar mais estranhezas, passou uma meleca escura no rosto para ficar
mais moreninho e não parecer doente como disseram.
A próxima
entrega é em casa muito grande, com chaminé.
Achou
que desta vez o trabalho seria mais fácil e foi escorregando suavemente até a
lareira.
Mas,
para variar, tinha gente acordada na sala.
Cumprimentou
o menino que deu uns passos para trás e gritou:
--
Mãe, traz o saco de dinheiro que o homem chegou.
Noel
não entendeu o comentário da mulher sobre ser mais discreto na roupa, que assim
todo mundo perceberia a qual partido ele pertencia, sobre petróleo e
escândalos, mas escreveu em seu caderninho de viagem:
Brasil
- país que pode ser tirado da rota de entregas pois já tem esquemas próprios.
Jogou as mãos para trás, coçou a barba, desejou mentalmente um feliz natal ao país atípico e partiu.
Ah!
Ao
voltar para a carruagem, não encontrou as frutas que a enfeitavam.
Pensou que talvez os
animais da redondeza as tivessem comido.
Nem percebeu
os flanelinhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário