quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

E é quase Natal!



Embrulhos

Em época de Natal as pessoas carregam embrulhos estranhos pelas ruas de São Paulo.
Tanto faz se é gente abastada ou mais modesta.
Pacotes de todos os tamanhos, formatos e cores desfilam nas ruas, entalam nos carros, são forçados para dentro de trens, ônibus e metrôs lotados.
Ou seguem nos ombros mesmo.
Academia grátis: caminhada e peso.

As poses das pessoas são estranhas também.
Contorcionistas nada treinados tentam sustentar no muque, nas costas e na cabeça, os tais embrulhos.  Todo mundo meio torto.

Já vi gente carregando muita coisa esquisita pelas ruas do centro: caranguejos azuis  enormes, vivos; galinhas amarradas pelos pés – feito um varal ambulante; macas sem doentes; postes de jardins.

Próximo ao Natal as compras aumentam e imagino que essas e outras coisas estão agora embrulhadas em papéis alegres e brilhantes.
Cada um dá de presente o que quer, não é?  Um festival de mistérios natalinos.

Outro dia encontrei um senhor carregando o que parecia ser uma cruz enorme.
Nada de cruz subjetiva, daquelas que - dizem por aí - todo mundo tem uma para carregar nessa vida.
Era concreta, mais alta que o homem que a carregava e, apesar de eu não ter certeza se era uma cruz e nem de qual material era feito, afirmo que o formato era de uma cruz - dessas que a gente vê nas igrejas.
E pela cara do sujeito – meio de dor, meio de orgulho – era uma cruz pesada, de madeira ou ferro. Isopor ou papelão é que não era.

O estranhamento das pessoas era geral: vi gente se benzendo e fazendo o sinal da cruz, ao passar pelo homem.
Ouvi gente dizendo: Cruz! Credo!
Alguns se esbarravam na tentativa de andar e olhar o homem por mais tempo.

Quebrei a cabeça imaginando o que aquilo poderia ser além da suposta cruz.
Não achei nada muito razoável.  
Canos e conexões? 
Ninguém sai por aí carregando o futuro encanamento, já montado. Sai? E também não conheço cano achatado. Mas pode até existir, claro.

O fato é que parecia ser uma cruz.
E se era uma cruz, que diabos fazia o homem, no centro da cidade, com uma cruz embrulhada para presente em vésperas de Natal?
Não me parece de muito bom gosto comemorar o nascimento de alguém dando o símbolo da morte deste mesmo alguém.   
Quem sabe a ideia é presentear a paróquia, o padre? O fabricante não faz entregas?
Vai ver o homem se atrapalhou nas datas.

O que será que eu faria se ganhasse uma cruz? Dependeria de quem desse? Talvez.

Penitência também não parecia ser porque não estava nas costas do homem e penitentes não costumam embrulhar suas cruzes em papel decorado com motivos natalinos.  Mas poderia ser. Tem tanto maluco por aí!

Será que ele pretende torturar alguém que o aporrinhou o ano todo? 
Um presente para o inimigo! 
Há gosto para tudo.  E lamento, também!!

Pensei na possibilidade do cara simplesmente ter uma cruz decorativa em casa:  tamanho original! Feita sob encomenda, com furos e tudo!
Na casa deste homem, entra uma visita e ele, depois de servir um café, convida: Venha ver minha cruz!
A visita, na tentativa de dissimular o susto ao ver a cruz plantada na sala, pergunta: E o cara que estava aí, pregado – já foi?  Queria conhecê-lo!

Quem sabe o homem só queria deixar gente xereta como eu, intrigada.
Vai saber...

Marcela Yoneda

E meu dia tem:
 
Música: Ghostwriter - RJD2 - Deadringer
Pensamento recorrente: bambolê
Cor da unha: natural


Um comentário:

  1. Fez um Blog e nem avisou,né? E o Champagne que deveríamos ter tomado nesta inauguração? (Serve Moscatel mesmo!) rsrs
    Muito bom ler seus textos! (será que já não conhecia este?) rsrs
    Bjs
    Zinha

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