Embrulhos
Em época de Natal as pessoas
carregam embrulhos estranhos pelas ruas de São Paulo.
Tanto faz se é gente abastada ou
mais modesta.
Pacotes de todos os tamanhos,
formatos e cores desfilam nas ruas, entalam nos carros, são forçados para
dentro de trens, ônibus e metrôs lotados.
Ou seguem nos ombros mesmo.
Academia grátis: caminhada e peso.
As poses das pessoas são estranhas
também.
Contorcionistas nada treinados tentam sustentar no muque, nas costas e na cabeça, os tais embrulhos. Todo mundo meio torto.
Contorcionistas nada treinados tentam sustentar no muque, nas costas e na cabeça, os tais embrulhos. Todo mundo meio torto.
Já vi gente carregando muita coisa
esquisita pelas ruas do centro: caranguejos azuis enormes, vivos; galinhas amarradas pelos pés –
feito um varal ambulante; macas sem doentes; postes de jardins.
Próximo ao Natal as compras
aumentam e imagino que essas e outras coisas estão agora embrulhadas em papéis
alegres e brilhantes.
Cada um dá de presente o que quer,
não é? Um festival de mistérios
natalinos.
Outro dia encontrei um senhor
carregando o que parecia ser uma cruz enorme.
Nada de cruz subjetiva, daquelas
que - dizem por aí - todo mundo tem uma para carregar nessa vida.
Era concreta, mais alta que o
homem que a carregava e, apesar de eu não ter certeza se era uma cruz e nem de
qual material era feito, afirmo que o formato era de uma cruz - dessas que a
gente vê nas igrejas.
E pela cara do sujeito – meio de
dor, meio de orgulho – era uma cruz pesada, de madeira ou ferro. Isopor ou
papelão é que não era.
O estranhamento das pessoas era
geral: vi gente se benzendo e fazendo o sinal da cruz, ao passar pelo homem.
Ouvi gente dizendo: Cruz!
Credo!
Alguns se esbarravam na tentativa
de andar e olhar o homem por mais tempo.
Quebrei a cabeça imaginando o que
aquilo poderia ser além da suposta cruz.
Não achei nada muito
razoável.
Canos e conexões?
Ninguém sai por aí carregando o
futuro encanamento, já montado. Sai? E também não conheço cano achatado. Mas
pode até existir, claro.
O fato é que parecia ser uma cruz.
E se era uma cruz, que diabos
fazia o homem, no centro da cidade, com uma cruz embrulhada para presente em
vésperas de Natal?
Não me parece de muito bom gosto
comemorar o nascimento de alguém dando o símbolo da morte deste mesmo
alguém.
Quem sabe a ideia é presentear a
paróquia, o padre? O fabricante não faz entregas?
Vai ver o homem se atrapalhou nas
datas.
O que será que eu faria se
ganhasse uma cruz? Dependeria de quem desse? Talvez.
Penitência também não parecia ser
porque não estava nas costas do homem e penitentes não costumam embrulhar suas
cruzes em papel decorado com motivos natalinos.
Mas poderia ser. Tem tanto maluco por aí!
Será que ele pretende torturar
alguém que o aporrinhou o ano todo?
Um presente para o inimigo!
Há gosto para
tudo. E lamento, também!!
Pensei na possibilidade do cara
simplesmente ter uma cruz decorativa em casa:
tamanho original! Feita sob encomenda, com furos e tudo!
Na casa deste homem, entra uma
visita e ele, depois de servir um café, convida: Venha ver minha cruz!
A visita, na tentativa de
dissimular o susto ao ver a cruz plantada na sala, pergunta: E o cara que estava aí, pregado – já foi? Queria conhecê-lo!
Quem sabe o homem só queria deixar
gente xereta como eu, intrigada.
Vai saber...
Fez um Blog e nem avisou,né? E o Champagne que deveríamos ter tomado nesta inauguração? (Serve Moscatel mesmo!) rsrs
ResponderExcluirMuito bom ler seus textos! (será que já não conhecia este?) rsrs
Bjs
Zinha