E eu não podia deixar de registrar...
Shitake
Começava a ter dúvidas se comera shitake ou um cogumelo
alucinógeno qualquer na noite anterior.
As nuvens haviam amanhecido com as mãos abanando. O vento,
mais misterioso que o normal, insistia em não contar seus segredos. A mulher no
ponto de ônibus cheirava a copo plástico mal lavado de liquidificador antigo. O
urubu fazia inveja a ela, plainando. Seu cachorro mostrara a plaquinha de nãoacreditoquevaimeabandonaremplenosábado!
Tudo estranhamente animado e com ares de festa. Deve ser o shitake misturado à expectativa.
Dia especial. Tudo vale para o encontro com amigos marcado na livraria Cultura da av. Paulista.
Alegria, alegria, minha gente! Cada pedra da calçada é sua
cúmplice na empreitada e ajuda no passo, alavancando os animados calcanhares.
Shitake dá sempre essa sensação? Pretende comê-los todos os
dias dali para frente.
O ônibus tem cara de que carrega baratas de tamanho mini como
passageiros clandestinos. Todos confiando que o motorista de unhas compridas e
sujas, que cumprimenta cada um que pisa no segundo degrau, os levará ao
destino, em segurança. Sorriso matinal
carrega carimbo de noite bem ou mal dormida.
E vamo’quevamo! Detesta essa frase, mas hoje até ela cabe.
Para o encontro, leva na bolsa o cartão de natal que comprara
no final do ano anterior. Nunca o enviara porque às vésperas das festas não
achou o endereço do destinatário.
Guardou tão bem guardadinho o bendito envelope com o endereço que só o
encontrou no carnaval. Já não faz sentido. Mas leva para mostrar que se lembrou
dele na ocasião.
Bobagem. Não fará sentido para o amigo que deixará de ser
virtual. Será flesh e osso!
Precisa lembrar que a barba foi tirada e deve procurar por
alguém de rosto sem pelos.
Um livro, um rosto. Rosto com barba.
Não.
Rosto
feminino.
Não.
Livros.
Rosto com
barba.
Rosto sem barba.
Livro.
Rosto semibarbado interessado em livro.
Achei!!!! Grita no coração, mas hesita na ação! Vai que
não é o amigo virtual e ela abraça um desconhecido qualquer despejando o
carinho que guardou no baldinho do coração!
Shitake
mexe até com as pupilas?
Mas não
altera o abraço, o reconhecimento, a confirmação e a gostosura do encontro.
Café,
conversa rápida. Um tatear a identificação, a afinidade que se presumia sabida
e comum aos três, agora confirmada.
Ela, na
verdade, é uma intrusa que ficará uns 15 minutinhos para falar um oi e olhar no olhinho do amigo querido
que visita a cidade no final de semana.
Um encaixe na agenda.
De
embrulho, ganha a amiga do encontro do amigo.
Pouco
tempo, muito a ouvir e a falar. Uma delícia de encontro.
Não
poderia ser diferente: ele é um gentleman. A amiga dele, a delicadeza em pessoa.
Sente que dentro dela todas as falas são em capsLk, todos os gestos em slow motion. Sabe que é por aí
que a agulha da vida vai alinhavando uma colcha mágica de contatos e
amizades.
Mas já é
hora de ir. Tem compromisso.
O queroficar explícito numa perna indo e outra fincada no chão querendo não se despedir chega a ser infantil, mas é tão verdadeiro!
E tchau!
Ela não
sabia, mas saiu como coelho da Alice, meio Amèlie Poulain, meio passarinho
novinho na palma da mão... Que delícia!
Ah! E acabou
por esquecer-se de entregar o cartão que levara.
É... O
encontro foi especial mesmo. Não adianta botar a culpa nos cogumelos de ontem à
noite, pensa já no metrô.
Obrigada
Ramon (No Insta: Palavra de Literatura e http://palavradeliteratura.blogspot.com.br/) e Thais (Literaturanews –
no Insta) pelo encontro tão gostoso.
Que possamos nos reunir mais vezes!
Que delícia de momento! Mesmo que rapidamente, deve ser delicioso ver finalmente, que aquela pessoa com a qual vc se relaciona à distância, tem cabeça,tronco e membros,como todo mundo, mas faz parte de um mundo especial, que só a afinidade de almas pode definir...
ResponderExcluirMuito gostoso deve ter sido o momento;e,se houve a influência do shitake, daqui prá frente eu trataria de comer muito mais desse delicioso cogumelo! rsrs